Tribal Ritualístico



Alguns pesquisadores como Arqueólogos, Antropólogos e Historiadores defendem a ideia de que a Dança estava presente nos antigos rituais à Natureza. As Danças primitivas eram danças rituais ligadas à sobrevivência dos homens e mulheres e seus movimentos ficaram registrados nas paredes de cavernas e rochas em arte rupestre. Geralmente, nas Eras Paleolíticas e Mesolíticas, essas danças estavam relacionadas aos rituais de colheitas e plantações. A imagem abaixo é uma das pinturas rupestres mais antigas que representa a Dança num ritual de fertilidade. 







“A mais antiga imagem da dança data do Mesolítico (cerca de 8300 A. C). Foi descoberta na caverna de Cogul, que fica na província de Lérida, na Espanha. Mostra nove mulheres em torno de um homem despido, indicando um ritual de fertilidade” (PORTINARI, 1989, p. 17).






No período Neolítico o homem deixou de ser nômade. Com residência fixa, ele começou a fazer oferendas aos Deuses para proteger sua agricultura. Os rituais em forma de dança tinham sentido de festejar a terra e celebrar as colheitas, assim como a fertilidade da terra. A ligação entre a dança, os movimentos e as forças naturais representa uma forma de sintonizar o ser humano com o ritmo da natureza. Nas danças milenares no Egito, na Índia, na Mesopotâmia, entre outras regiões, o caráter sagrado era evidente. A dança estava presente nos rituais de homenagens aos Deuses.

Muitos pesquisadores dedicam seu tempo a investigar essa relação da Dança com os Rituais Ancestrais. Muitas figuras foram encontradas em cavernas por Arqueólogos que datam de até 1000 anos e podem representar nossos ancestrais dançarinos.


“Numa parede da gruta de Gabillou (perto de Mussidan, na Dordonha), está representado o ancestral dos dançarinos: a silhueta gravada de um personagem visto de perfil, de cerca de trinta centímetros de altura. A cabeça e o corpo estão cobertos por pele de bisão. As pernas, sem qualquer dúvida humanas, indicam uma espécie de salto 18 no lugar. O ângulo do torso das pernas é de vinte cinco a trinta graus” (BOURCIER, 2006, p. 05). 




Na cultura indiana existe uma narrativa poética hindu que nos conta a criação/preservação/transformação do universo como uma manifestação da Dança de Shiva Nataraja, o bailarino cósmico. Shiva é uma divindade, considerado o “rei da dança”, que executa a dança divina que destrói o que é necessário para recriar novamente. 

Inúmeras figuras em cavernas, objetos de uso do cotidiano e documentos da época demonstram que a Dança no período Paleolítico era um ato ritual em que se entrava num transe. Vestimentas especiais e até máscaras rituais eram usadas. Costumes que até hoje podemos encontrar em culturas mais ligadas à natureza.

O Filósofo Sócrates, através de Platão em Leis VII, relatou a Dança como uma atividade essencial para a formação do homem e que a Dança daria ao corpo saúde e educação. O povo grego, diferente de nossos contemporâneos ocidentais, não separava o corpo do espírito e acreditava que o equilíbrio entre ambos proporcionava evolução e sabedoria. A dança como um ato sagrado também foi manifestada em templos, onde os sacerdotes ou sacerdotisas invocavam o auxílio dos deuses para pedidos e agradecimentos.

Com o passar do tempo, a Dança passou a ter um caráter artístico e de entretenimento, o que não é um problema. Mas algumas bailarinas e professoras, assim como eu, tentam resgatar essa essência ritualística para a Dança. No grande marco da Dança Moderna, encontramos diversos bailarinos que trouxeram essa perspectiva. Lembrando que a Dança Moderna foi uma ruptura com a Dança “engessada” e cheia de regras. Bailarinos como Rudolf Laban, Martha Graham, Ruth Saints Dennis, Isadora Duncan entre outros, pensavam que a espiritualidade poderia estar atrelada à dança. 

Laban passou uma época interessado na Antroposofia de Steiner e na Teosofia de Madame Blavastsky. Ele se preocupava em descobrir a base espiritual para o homem comum, e desejava expressar o movimento com uma unidade entre o espiritual, o mental e o físico. Laban escreveu, em 1935, "Uma vida para a dança" e nesse texto ele se descrevia como um artista espiritualizado. No artigo Laban’s Secret Religion, a historiadora alemã Marion Kant defende que a ideia de harmonia de Laban teria origem em sua empreitada pessoal para construir a dança como meio de transcendência espiritual, uma “religião do ato”.

Não somente para Laban, mas também para os primeiros dançarinos modernos, o que importava era reconhecer no movimento a possibilidade de se acessar lugares recônditos da natureza humana. Mary Wigman era discípula de Laban e de forma intuitiva compartilhou seu interesse com Laban pelas danças de cultos religiosos. No livro "Modern Dance in Germany and the United States" (1994), a autora Isa Partsch relatou uma experiência espiritual em uma aula que fez com Wigman quando esta ensinou os giros dos Dervishes. Wigman acreditava que seus alunos deveriam alcançar um nível de transe, chamado de "Êxtase hipnótico", que possibilitava condições para uma conexão com o inconsciente.
“A dança é uma pedra de toque espiritual” é uma frase da Martha Graham. Ela disse mais: “O movimento é um barômetro que revela as condições atmosféricas da alma a todos os que conseguem entendê-lo; isso poderia chamar-se lei da vida do bailarino.”

Os poemas do pai de Isadora Duncan, sobre a cultura grega, e sua visita à coleção de vasos e o acervo iconográfico grego, no museu do Louvre, em Paris, por longos anos inspiraram sua dança, o que para Duncan representava as forças naturais e a espiritualidade que impulsionavam sua movimentação livre. 

Ruth Saint Denis, considerada a pioneira da Dança Moderna Americana, também possuía um fascínio pela espiritualidade. Por ter morado em uma fazenda, desenvolveu admiração pelos elementos da natureza e o interesse pelos aspectos espirituais da “mãe natureza”. Ela se destacou por expressar misticismo, exotismo e espiritualidade em seus estudos. Muitas de suas coreografias mesclavam a ideia do físico e da divindade e isso fez com que ela estudasse inúmeras religiões ao longo da vida. Para ela a Dança era um Ritual e uma prática espiritual. (detalhe, A Jamila Salimpour teve influência da Ruth). Eu passaria a vida descrevendo a relação da Dança com aspectos ritualísticos e apontando professores bailarinos importantes para a História da Dança que também possuíam essa perspectiva. 

Trazer a perspectiva ritual para nosso Tribal Fusion não é um erro, é uma opção. O Tribal Fusion não é uma dança ritualística em si, mas como é uma dança onde a subjetividade é valorizada, é possível um diálogo entre a técnica de Dança Tribal e o caráter Ritual. Além disso, dentro dos pilares do Tribal Fusion encontramos duas danças religiosas (a Dança Indiana, e a Dança do Ventre que não é mais religiosa, mas em tempos antigos era um culto a Deusas da fertilidade, segundo inúmeros pesquisadores). Também é possível compreender que a Dança Tribal é uma Dança étnica e que possibilita o contato com diversas culturas e costumes ritualísticos, tudo numa estética contemporânea, claro. 

Acho importante salientar que o Tribal Ritualístico não é uma religião. É religiosa no sentido do “re-ligare” a qual a palavra “religião” se refere: Ligar-se ao divino, que pode ser uma entidade/Deuses exteriores ou a Deus/deusa interior. Vai depender de cada um. O que se acredita é algo pessoal. 

Considero o Tribal Ritualístico como um subgênero do Tribal Fusion, que une a técnica do Tribal Fusion a uma atmosfera ritualística. O Tribal Ritualístico objetiva trabalhar a Dança Tribal em um aspecto ritualístico buscando a conexão com o Eu sagrado e o equilíbrio com a natureza. Toques terapêuticos, como aromaterapia, musicoterapia, dança-terapia, cromoterapia, mudrás, mantras e etc, são adicionados às práticas nas aulas. Os movimentos têm por base a Dança Tribal (ATS, ITS, Dança do Ventre, Indiana, Flamenco, Dança Teatro e fusões), e o trabalho do corpo, mente e espírito, além de alongamentos, meditações, expressões corporais, a consciência física e a harmonia com a mãe natureza e outras entidades em um belo ritual. A Dança Tribal ritualística busca trazer um ambiente místico e harmonioso que possa proporcionar às participantes o bem estar e o (re e auto) conhecimento, identificando seus poderes e seus limites, tudo isso aliada à técnica e a conexão com o feminino ancestral, a Deusa interior e seu poder!


Durante esses anos de pesquisa, em que me aprofundei nos estudos técnicos de Dança e nas Danças Rituais, pude reunir conteúdos, práticas e experimentos que proporcionaram harmonia interior e evolução pessoal. Além das aulas regulares e workshops que já ministrei, desenvolvi um Curso de Iniciação em Tribal Ritualístico que inicia o processo abordando os 7 Chakras e os Elementos da Natureza.




Veja abaixo os conteúdos do curso:


MÓDULO 01: RAÍZES E CONSCIÊNCIA RITUAL
A história da Dança Ritual;
O Ritual e sua presença na Dança Tribal;
A relação do corpo com a mãe natureza;
Os elementos da natureza: fogo, ar, terra, água, éter.

MÓDULO 02: DESPERTANDO O PODER DO VENTRE
A importância do nosso Ventre;
O chakra básico;
O trabalho de diversos tipos de shimmies.

MÓDULO 03: O ATS NUMA PERSPECTIVA RITUAL
A Saudação da Dança Tribal;
Os chakras e sua energia;
Movimentos do ATS na perspectiva Ritualística.

MÓDULO 04: CONEXÃO COM AS DEUSAS
Conhecendo algumas Deusas;
Entrando na energia da Deusa;
Ligando os movimentos de dança ao sentido ritual das Deusas.

MÓDULO 05: COREOGRAFIA E IMPROVISO
Como coreografar na perspectiva ritual;
Improvisar é deixar fluir a energia.
A importância do figurino.

TCC: Ao final do curso cada participante apresentará um trabalho de conclusão como requisito para a certificação.


Em breve um novo curso será disponibilizado com o objetivo de oferecer um aprofundamento. Para interessados no Curso, aulas regulares, workshops e afins, entre em contato:



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PORTIFÓLIO DE WORKSHOPS E PALESTRAS DE TRIBAL RITUALÍSTICO:



















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